Logo no início de 2012, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi submetido à primeira sessão de radioterapia e a uma sessão complementar de quimioterapia, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, no combate ao câncer de laringe diagnosticado em outubro de 2011.
Ao mesmo tempo, o ex-ministro das Comunicações, Hélio Costa, sofreu um infarto e se internou no Hospital Biocor, em Belo Horizonte.
A política revela o pior e o melhor das pessoas. Os agentes políticos estão todos sujeitos aos mesmos tipos de infortúnio, embora o comportamento dos mesmos agentes possa variar bastante.
No Brasil, o debate público descamba muitas vezes para uma batalha de ofensas e estigmatização. O PSDB virou o partido da elite desconectada, o PT virou o partido dos sindicalistas corruptos, e a dicotomia afasta o bom diálogo no tom de torcidas organizadas que não respeitam nem a mãe do pobre juiz. Tal comportamento é um método em grandes discussões ou em pequenos detalhes.
A Turma do Chapéu estica o olhar bem humorado para os adversários que passam o dia tentando nos desmerecer. Através de perfis falsos no Twitter, fazem questão de afirmar que somos todos parte de uma “elite”, entre outras teses. O termo “elite” virou xingamento e, ainda, virou generalização para quem não é aliado. Uma das acusações mais caricatas que nos fazem diz respeito ao nosso símbolo: o chapéu panamá. Na cabeça dos birutas, ele é símbolo da política do “coronelismo”.
Viajando pelo Brasil, qualquer um vê chapéus na cabeça de todos os brasileiros. Os mais variados estilos, as mais variadas tradições. O chapéu panamá, que saiu do Equador e ganhou o mundo através da notoriedade do presidente Ted Roosevelt, é visto em todo lugar. Vá à Lapa, no Rio de Janeiro. Está na cabeça do sambista. Vá ao Mercado Modelo, em Salvador. Está na cabeça do artista. Apareça no cais de Belém e você vai ver um caboclo usando um. Nenhuma dessas pessoas faz parte de uma “elite” e eles usam o mesmo chapéu. Aliás, quem apareceu usando um foi justamente o presidente Lula. É só conferir as fotos feitas pelo Ricardo Stuckert.
Eu pergunto: as mesmas pessoas que dizem que somos representantes do “coronelismo” tão somente por usarmos chapéu diriam o mesmo de Lula? E olha que nem temos o Sarney como aliado. Pergunto mais: se FHC estivesse passando pelo mesmo tratamento de Lula, esses mesmos militantes agiriam com o respeito que se deve à situação?
Lula usa o mesmo chapéu que usamos. Está na moda. Isso não faz dele melhor nem pior. Elite ou não. Faz dele alguém que está usando chapéu. O que importa e o que sempre importou é o que vai abaixo do tradicional acessório. O que deve ser levado em conta em qualquer disputa é uma ideia. Tancredo ensinou isso e foi um dos personagens que nos deixou de maneira triste, lembrando que inexistem heróis que não sejam humanos.
Lula no hospital, em São Paulo - Foto: Ricardo Stuckert
É muito reducionista desejar criar classes de pessoas. Rotular para evitar as premissas, driblar o respeito para contornar as conclusões. Refaço o convite aos nossos aliados e adversários: vamos jogar bonito. Vamos respeitar nossas diferenças e fragilidades.
Desejo muito sinceramente que Lula vença essa etapa. Desejo muito sinceramente que Hélio Costa se recupere, se alimente melhor e pratique caminhadas. Infarto é sempre um alerta. Antes de serem meus adversários, ambos são humanos com cabeças idênticas à minha no formato que sustenta o mesmo tipo de chapéu. Sempre fiz piadas com Hélio Costa. Considero que todas acima da cintura. Não é um percalço de saúde que vai evitar com que eu continue nesse ofício. Ele segue, comigo saudável ou não, com o mesmo direito de fazer piadas ou de pedir a minha prisão. Já disse, desejo a ele saúde o suficiente para ser candidato a prefeito de Belo Horizonte em 2012.
Gosto de lembrar a frase de John Kennedy: “O laço essencial que nos une é que todos habitamos este pequeno planeta. Todos respiramos o mesmo ar. Todos nos preocupamos com o futuro dos nossos filhos. E todos somos mortais.” Mortais que somos, façamos da política uma atividade mais arejada e menos ultrajante. Saúde, Lula! Saúde, Helio Costa!
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